Encontrar a verdade, definir as condições de sua busca e identificá-la com o bem foram, desde cedo, um dos pilares da reflexão filosófica. Desse modo, a mentira tornou-se uma sombra, um negativo e poucas vezes suas características foram examinadas com atenção. Em “Sobre a mentira” (395), primeiro de dois textos que Santo Agostinho dedicou a ela, busca-se, em primeiro lugar, definir a fraude, elucidar sua natureza, delimitar seu alcance, denunciar seus disfarces para, convictamente, condená-la. A mentira, na cerrada argumentação agostiniana, não se confunde com o erro ou com formas inofensivas da ilusão, como a ficção. Ela é fruto de uma vontade deliberada de enganar, de omitir, é uma omissão da parte de quem “pensa ou sabe a verdade de uma coisa, mas não a exprime, e diz outra no lugar daquela, sabendo ou pensando que é falsa”. Não existem exceções a esta regra, nem mesmo nos casos em que se mente por “fins nobres”, pois para o pensador cristão uma mentira não resulta nunca um bem, mas sempre um mal.
- Editora : Folha (1 janeiro 2021)
- Idioma : Português
- Capa dura : 64 páginas
- ISBN-10 : 6587200192
- ISBN-13 : 978-6587200194